Justo a mim

"Disciplina é liberdade"... Toda semana um texto novo... promessa!

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Aos alunos com carinho

Existem emoções que a gente vive poucas vezes na vida. Quando elas são únicas, a gente tende a não esquecer, sejam boas ou ruins.
Eu já vivi algumas que, se fossem objetos, seriam daqueles que a gente coloca (ou que se colocavam) bem no alto das estantes, pra todo mundo ver, mas onde ninguém pode mexer. As emoções boas são como... brisa... que naqueles dias quentes deixam o ar mais leve e fazem a gente sorrir.
A mais recente dessas emoções eu devo aos meus alunos. Sempre que há uma separação, uma despedida, de viagem, de faculdade, de crianças que passaram a tarde no parquinho e depois têm de ir embora, qualquer coisa assim, a gente acredita, de verdade que aquele sentimento vai durar. E não dura. A gente entra no ônibus de volta e já começa a pensar no que tem pra fazer em casa; termina a faculdade e já passa a se preocupar com o trabalho e, mesmo as crianças, depois que tomam banho, voltando do parquinho, esquecem totalmente que queriam ter ficado lá.
Bom, mas o que importa é que agora eu estou na fase de acreditar que o sentimento vai durar, e que meus alunos nunca vão sair do meu coração (e não vão mesmo) e, principalmente que eu não vou sair do coração deles... daí eu já~não sei... o que importa é que agora estou acreditando. E é por acreditar que eu acabo precisando escrever sobre isso tudo. Escrever sobre os presentes que eles me deram no último dia de aula.
Eles me lembraram da razão maior que me fez escolher ser jornalista: entrar na vida das pessoas... ou arrumar um jeito de fazer as pessoas aceitarem um pouquinho da minha vida, o que, no fim das contas deve dar na mesma.
Também me lembraram da razão pela qual eu dei aula por mais de dez anos... porque essa é a maneira mais fácil de ser recebido por alguém e de, ao mesmo tempo recebê-lo.
Eles me fizeram lembrar, mais uma vez, que eu preciso falar de emoção (às vezes sou meio piegas, mas... ah, 'todas as cartas de amor são ridículas'), e mais uma vez eu vi que, quando eu trabalho com emoção, escrevendo ou falando, eu me sinto plena.
Sei que fui correspondida nesse meu amor por eles. E isso é tão reconfortante... ter um bom sentimento correspondido.
Eu não sei bem o que vou fazer agora, com tudo isso que eles remexeram dentro de mim. Talvez eu espere assentar, espere que eles me esqueçam... que o sentimento passe e eu sinta que nada disso nunca aconteceu; que é o caminho mais fácil. Quem sabe, porém, dessa vez eu considere, crie coragem, pare de fazer de conta que a gente só pode ser feliz uma vez... ou só de vez em quando... ou sem saber que está sendo feliz. Talvez, agora eu resolva enxergar que a gente colhe o que planta, e só planta com as sementes que tem, assim, se eu tenho colhido coisas tão lindas, eu resolva acreditar que posso plantar mais, mais, mais...