Justo a mim

"Disciplina é liberdade"... Toda semana um texto novo... promessa!

quinta-feira, maio 31, 2007

Privacidade pública


Tchi tchiiiiiiiiiiiiiiiii
- Boa noite, obrigada!
- Boa noite!
Treeec treec
Puff.
...

“Oi, mãe! Olha, não vai dar pro Sílvio fazer o bolo. Falei que a gente levaria os ingredientes, a forma, mas vai sair muito caro. Não, não vai dar. Estou te avisando porque a gente vai precisar dar um jeito, ok?
Ah, outra coisa, a mãe do Binho morreu. É, ontem. A Juliana disse que eu sou ruim porque eu disse que não vou pra Mocóca. Não vou mesmo. O máximo que falei pra ela dizer pra ele é ‘meus sentimentos’ mesmo que eu não tenha sentimento nenhum. Bom, sabe, é, tudo bem que foi a mãe que morreu, mas, ainda bem que ela morreu pra não ver as ruindades do filho. Ah, é claro, que sim! Ele não merece nada. E você acha que eu vou pra lá? De jeito nenhum. Bom, mãe, só liguei pra falar do bolo. Um beijo, tchau.
...

Oi, Mi, tudo bem? Você vai na Biroska hoje? Ai, eu vou só dar uma passada, tô cansada de ficar indo toda hora. É, falei com o Fê... sabe, eu queria fazer uma coisa mais romantiquinha, comer um queijo com vinho, ficar em casa... mas o Fê disse que vai se sentir velho. É, velho, acredita?!. Ele disse que já não foi na sexta, nem no sábado... Haha, falei pra ele que ele é um tonto. Bom, mas agora, que horas são... 20h30... bom, tá o maior trânsito aqui na Paulista, mas, eu vou chegar lá e no máximo às 22h30 tô caindo fora.
Ah, outra coisa... a mãe do Binho morreu, é, ontem. Quem me contou foi a Ju. Ela disse que eu sou ruim porque não quero ir. Ah, sabe, já não moro mais com ele, já não tenho mais nada a ver com ele... porque vou viajar seis horas pra ir e voltar, no mesmo dia? Não, mesmo.
Mas, Mi, não, não, não fala isso. Eu não sou ruim, Mi! O máxima que falei pra ela dizer pra ele é ‘meus sentimentos’, apesar de eu não ter nenhum sentimento por ele. Mi! Não, tudo bem, eu falei pra Ju dar ‘meus sentimentos’ pra ele. Ele não merece, mas tudo bem, só pra não ficar chato. É a mãe dele era um anjo, mas foi bom ela morrer, assim não vê as ruindades do filho. Não me venha defendendo esse canalha! Morei com ele por quatro anos, o cara me larga três dias antes do meu aniversário, me trai, engravida outra, já com o casamento marcado; Mi, como você quer que eu reaja. Ele não presta. Além disso, a mãe dele nem olhava na minha cara. Não vou viajar seis horas.
Bom, sabe, a mãe da Flá morreu. Ontem. Ela saiu às pressas pra resolver as coisas. É a mãe dela era bem senhorinha já... tinha uns cento e poucos anos.
É o seu ou o meu que está tocando? Eu não sei atender outra... ok.
...
Ai, desculpa, não era o meu, não, mas eu não sei atender outra e perdi a ligação. Hoje eu falei com a supervisora... é, fui perguntar pra ela se ainda trabalho na empresa. Ela ficou assustada, mas, puxa... meu pagamento é parcelado, minha senha mudou, meu computador em outra mesa... Fui perguntar pra ela. Ela disse que é só uma fase... Ai, Mi, mas fazer o que, né? Não, acho que vou procurar outro emprego. Claro, mas você sabe, isso foi o mesmo que aconteceu com a Gi, você lembra, logo que ela começou a trabalhar lá, o supervisor...”
Tchiiiiiiiii tchuuuf

Que frio!

quinta-feira, maio 03, 2007

Home is the place that when you knock, they have to let you in

Outro dia, me pediram pra escrever sobre família... eu pensei, pensei... e lembrei de uma frase de um livro de inglês, da época (quase remota) em que eu dava aulas. Daí, pelo que me lembro agora, escrevi algo mais ou menos assim:

" Me disseram uma vez que lar é o lugar que, quando você bate, eles têm que te deixar entrar. Nem sempre sua família é seu lar, claro, mas quando se tem um lar, é lá que temos a família, portanto.
Quando é você quem bate, à primeira vista pode até parecer a posição mais tranquila, mas quantas não são as vezes em que a gente não queria ter que bater, queria resolver sozinho... mas não dá. Por outro lado, tem vezes em que saber que, em algum momento, alguém vai abrir a porta pra você e te dar abrigo é a melhor coisa que pode existir e mesmo muitas vezes, o melhor estímulo de todos.
Às vezes a gente bate com uma certa timidez, um certo olhar de lado, mas com o coração cheio de esperança. Outras horas, a gente entra gritando, esmurrando a porta, com medo do fantasma que vem correndo atrás.
Quando estamos do outro lado, a situação não é também assim tão simples. Tem vezes em que a porta tem que se abrir para saída, e não para entrada. Outras vezes, precisamos ponderar se o melhor é mesmo deixar entrar ou se não é apenas dar um copo de água e indicar o caminho? Tem horas em que a gente não sabe como fazer, tem vezes em que a gente tranca a porta e joga a chave... e há também quem não sai da janela, esperando que venham, finalmente, bater à porta.
Pois é, família é isso: uma hora a gente bate, outra hora tem que abrir. No mais, são tudo contigencias que, geralmente, se encerram num álbum de fotografias."