Hoje é sábado.
Altera me contou que acordou muito feliz. Ela me disse que anda preocupada com um monte de coisas, mas que tá feliz pelo momento que está vivendo.
Ah, sim, eu e Altera conversamos muito, muito mesmo.
Quando ela era pequena, brincava que ia encontrar o namorado. Ela me disse que, junto com uma prima, se divertia muito se preparando para encontrar o tal 'namorado'. Mas, as coisas mudaram um pouco, e quando a Altera cresceu ( a gente ainda não era muito amiga), passou a ter um medo danado dos meninos. O namorado ficou perdido na infância, e como nas brincadeiras, ele nunca chegava, porque, se chegasse, estragaria a diversão.
Mas... a Altera começou a se preocupar com isso porque, na avançada idade de 14 anos ela nunca tinha sequer beijado. Ela me confessou outro dia que a primeira vez que dançou com um menino devia ter bem uns 16 anos. Vai ver que porque todas as amigas da idade dela não tinham brincado de esperar namorado na infância, Altera era a única que nunca tinha namorado ninguém.
Mas, sim, eu comecei dizendo que Altera está feliz hoje, sim, ela está. Inclusive tá aqui do meu lado rindo sozinha enquanto escrevo meu blog. Eu bem que disse a ela que, como andamos muito próximas ultimamente, ela teria que ser citada em tudo aqui. Ela não se importou, só pediu que trocasse o seu nome, o que eu respeitei e, portanto, nunca vou dizer o nome verdadeiro da Altera.
Bem, enquanto conversava com ela de manhã, fiquei pensando em tantas coisas. Claro, mas o que fez Altera feliz e a mim pensativa? Altera voltou a sair com alguém, e isso a deixa elétrica!
Altera é do tipo que nem sempre se apaixona, mas se apaixona e que, quando ama, ama mesmo, "quase demais", como gosta de dizer.
Isso é muito interessante. Hoje em dia, as pessoas têm muito medo da palavra "compromisso". Mas, afinal, o que é compromisso? Eu acho que é a aceitação de si próprio, da outra pessoa e da situação, com graus e graus de intensidade, mas é isso pra mim. Uma vez que alguém se aceita (ou se desafia, o que não deixa de ser uma aceitação) e aceita o outro (ou, da mesma forma, desafia-o) e reconhece a situação em que vive, já tem um compromisso.
Um dia, eu sonhei com meu avô, Zico. Nós nunca tivemos muito contato enquanto ele tava vivo e, o mais engraçado é que no sonho foi a conversa mais ... próxima que tive com ele. Teve também o dia dos pais que em semanas antecedeu sua morte. Eu fiquei muito impressionada como havia um olhar de esperança entre uma tosse e outra. O olhar dele ficou marcado pra sempre na minha memória, mas não foi suficiente para mantê-lo aqui, pra me falar o que ele esperava depois da tosse.
Mas no sonho, como este sentimento sempre ficou comigo, eu fiquei tão feliz em vê-lo, e o abracei como nunca havia feito em vida. Então, ele começou a me falar sobre o amor. Ele me disse que para amar três coisas se fazem necessárias: reconhecer, aceitar e ... a terceira não me lembro bem, mas tenho quase certeza que é esperar. Ele discorria sobre cada um dos itens com uma suavidade e profundidade incríveis! E eu me maravilhava e concordava com tudo o que ele dizia, lembrando de todos os caras que passaram na minha vida.
Se não me falha a memória, ele dizia que reconhecer é importante porque você precisa saber quem você é e quem é a pessoa com quem você está. O que não é fácil, porque aí, caímos no próximo item que é aceitar. Você não pode aceitar o que não conhece e muitas vezes não aceita o que conhece, de forma que são dois passos muito profundos e importantes. Como disse, se bem me lembro, o terceiro tópico era o esperar, porque pra que tudo isso se faça e se assente, é preciso tempo e paciência para lidar com ele. Isso posto... o amor pode caminhar.
Até hoje não me esqueço da conversa que tive com meu avô, a única em toda minha vida. Eu já tinha contado isso pra Altera e acho que ela tá no caminho certo.